A história do primeiro chocolate do Brasil

Qual foi o primeiro chocolate do Brasil?


Muito antes das grandes marcas que conhecemos hoje, houve um começo que deu origem à identidade do chocolate no nosso país.

O primeiro chocolate do Brasil, iniciou sua história ainda no século XIX. Com uma trajetória que reúne a narrativa de imigrantes, espírito empreendedor e inovação. 

Não se trata apenas de um fato histórico, mas de um legado que até hoje vem moldando nossa relação com o cacau e que teve a Neugebauer como grande protagonista.

Fundação da primeira fábrica: Neugebauer & Irmãos

Para compreender a gênese do chocolate no Brasil, precisamos voltar ao final do século XIX, mais precisamente ao ano de 1887

Foi nesse período que o técnico confeiteiro alemão Franz Neugebauer desembarcou em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. 

Em conversas com as autoridades municipais, Franz percebeu o grande interesse na implantação de novas indústrias e, motivado por essa percepção, começou a elaborar planos para fabricar produtos alimentícios em solo brasileiro.

Após garantir um local para seu empreendimento – um prédio que antes abrigava uma escola –, Franz Neugebauer escreveu para sua família na Alemanha. 

Ele pediu a seu irmão Ernest que se especializasse no ramo de confeitaria e chocolate, e a seu irmão Max que viesse ao Brasil para iniciar essa nova jornada industrial. E assim, a visão desses imigrantes empreendedores começou a tomar forma.

Juntamente com o amigo Fritz Gerhardt, Franz e Max Neugebauer fundaram a firma Neugebauer Irmãos & Gerhardt em 17 de setembro de 1891

Esta data marca oficialmente o nascimento da primeira fábrica de chocolates do Brasil. O início das operações não foi isento de desafios, como é comum em qualquer empreendimento pioneiro. 

Contudo, a persistência e o conhecimento técnico logo permitiram a ampliação da produção, impulsionada ainda mais com a chegada de Ernest ao Brasil. Ele trouxe consigo novas técnicas e um aumento no capital da empresa, solidificando as bases do negócio. 

Em 1896, diante do notável sucesso alcançado, a fábrica expandiu suas instalações, adquirindo mais um prédio. Com a saída de Fritz Gerhardt da sociedade, a razão social foi alterada para Neugebauer & Irmãos, consolidando a força familiar por trás da marca.

Crescimento e reconhecimento

O sucesso da Neugebauer foi exponencial, levando a um crescimento que exigia novas e maiores instalações já no início do século XX. 

Em 1903, a empresa adquiriu um novo terreno e iniciou a construção de um imponente prédio de dois andares no bairro Navegantes, que por muito tempo foi a maior edificação da região. 

Nas novas instalações, a área industrial foi significativamente ampliada, e a empresa deu um passo importante ao abrir sua primeira loja de produtos, aproximando ainda mais a marca do consumidor final.

Por volta de 1913, a Neugebauer já era uma operação complexa e diversificada, dividida em 10 seções. A fábrica era servida por dois motores a vapor, que acionavam impressionantes 30 máquinas e 10 caldeiras dedicadas à fabricação de confeitos. 

A autonomia da produção era notável: a empresa contava com seções próprias de cartonagem e funilaria, esta última operada por um motor elétrico que acionava 10 máquinas. 

O acondicionamento dos doces era feito em latas de folha-de-flandres, brancas e litografadas, e até mesmo as caixas de madeira eram confeccionadas dentro da própria fábrica.

A variedade de produtos era vasta, com cerca de 2000 tipos de drágeas, caramelos, pastilhas, bombons finos, chocolates e biscoitos sendo produzidos. A qualidade dos produtos Neugebauer não passou despercebida. 

A empresa acumulou uma série de reconhecimentos e prêmios de prestígio, incluindo grandes prêmios e medalhas de ouro e prata em exposições no Rio Grande do Sul, nos Estados Unidos, em Milão e na renomada Exposição do Rio de Janeiro. 

Esses prêmios atestavam a excelência e a inovação da Neugebauer, elevando o nome do chocolate brasileiro a um patamar internacional.

A reinvenção da Neugebauer

A Neugebauer manteve-se sob controle familiar por quase um século. No entanto, em 1982, a família Neugebauer vendeu a empresa para o Grupo Fenícia

Esta transição marcou o fim de uma era de gestão familiar direta, mas não o fim da marca, que continuaria a ser um nome forte no mercado de chocolates.

Em 1998, a empresa foi novamente vendida, desta vez para a multinacional Parmalat, que a manteve em seus ativos por alguns anos.

Em setembro de 2002, a Neugebauer passou para as mãos da Florestal Alimentos, de Lajeado. Sob nova gestão, a Neugebauer expandiu seus horizontes, iniciando a exportação de seus produtos para diversos países, incluindo: África do Sul, México, Colômbia, Costa Rica, Omã, Jamaica, Gana, Panamá, República Dominicana, Equador, Israel, Ilhas Fiji e Nova Zelândia.

Demonstrando a capacidade do chocolate brasileiro de conquistar mercados globais, competindo com outras grandes marcas de chocolate.

Uma nova e significativa mudança ocorreu em 5 de janeiro de 2010, quando o Grupo Vonpar, o maior engarrafador da Coca-Cola nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, adquiriu a Neugebauer.

Com essa aquisição, a Vonpar criou a Vonpar Alimentos, transformando a Neugebauer em uma divisão de alimentos que englobava também a Mu-Mu Alimentos (produtos lácteos e doces) e a Wallerius (balas). 

Essa fusão trouxe novos investimentos para a Neugebauer, consolidando sua posição no mercado nacional.

Em 2013, a Neugebauer inaugurou uma nova e moderna fábrica no município de Arroio do Meio (RS). Essa nova planta foi projetada para unificar a produção de chocolates e doce de leite, incorporando tecnologias de fabricação e embalagem de alta eficiência.

 A busca pela excelência e pela segurança alimentar continuou, e em 2019, a fábrica recebeu a Food Safety System Certification (FSSC 22000), uma importante certificação baseada nas Normas ISO para avaliação e gestão da segurança na cadeia de alimentos, reafirmando o compromisso da Neugebauer com os mais altos padrões de qualidade.

Neugebauer, Harald e Danke

A influência da família Neugebauer na indústria chocolatiére brasileira não se limitou apenas à marca original. O conhecimento e a paixão pela arte do chocolate foram transmitidos através das gerações. 

Décadas mais tarde, em 1982, a terceira e quarta gerações de mestres chocolateiros da família fundaram a marca de Chocolates Harald

Essa nova empresa consolidou-se rapidamente como uma das maiores fabricantes do Brasil, alcançando uma capacidade de produção de 72 mil toneladas de chocolates por ano.

A Harald representou um avanço significativo na capacidade industrial brasileira, mantendo o foco na qualidade e na inovação. No entanto, o espírito pioneiro da família não cessou. 

A busca por um chocolate que não apenas agradasse ao paladar, mas que também valorizasse a origem e a sustentabilidade, culminou em um marco mais recente.

Em 2010, a Harald lançou a linha Unique, o primeiro chocolate do Brasil feito exclusivamente com cacau nacional. Este projeto foi um divisor de águas, pois focou na produção de cacau brasileiro cultivado na Mata Atlântica e na Amazônia, regiões de rica biodiversidade. 

Essa iniciativa não apenas elevou o perfil do cacau brasileiro, mas também demonstrou um compromisso com a preservação das florestas nativas e a valorização das comunidades locais que se dedicam ao cultivo do cacau.

Ainda mais adiante, em 2019, um novo sonho começou a se concretizar: o desejo de criar um modelo de negócio em torno do cacau que fosse verdadeiramente transformador, respeitando toda a cadeia envolvida e resgatando o sabor de um chocolate fino, feito no Brasil, que representasse a ancestralidade da família Neugebauer. Este desejo se materializou em 2020 com o nascimento da marca Danke Chocolates.

A Danke surge como uma empresa do futuro, alinhada com as novas demandas de um mundo mais consciente. Seu compromisso vai além do sabor: ela agradece à alegria que o cacau proporciona, respeita a terra, honra a relação com as pessoas e dá continuidade a uma tradição chocolateira de mais de um século. 

A materialização desse compromisso se vê em suas instalações: a Gencau, a “fábrica na floresta”, um modelo de sustentabilidade com equipamentos inteligentes que minimizam o impacto no ecossistema; e a Florend, a “fábrica de ponta” em São Paulo, equipada com tecnologia suíça de ponta para a produção dos chocolates Danke.

O compromisso com os produtores de cacau também é um pilar fundamental da Danke. A empresa trabalha apenas com cacauicultores pré-qualificados, que seguem um Código de Conduta rigoroso, garantindo a ausência de trabalho infantil e áreas livres de desmatamento ou queimadas. 

Além disso, a Danke pratica o comércio justo, reconhecendo a qualidade superior do cacau e pagando um prêmio sobre o preço do cacau comum, incentivando a produção sustentável e valorizando o trabalho no campo.

Uma história de sabor e inovação

A trajetória da primeira fábrica de chocolate do Brasil, iniciada pelos irmãos Neugebauer em 1891, é muito mais do que a simples criação de um produto. 

Ela representa a chegada da industrialização, a adaptação de técnicas europeias ao contexto nacional e a construção de um legado familiar que se reinventa e se fortalece a cada geração, mesmo através de diferentes gestões.

Hoje, a Neugebauer, a Harald e a Danke são testemunhas vivas de como a paixão pelo chocolate, combinada com inovação, qualidade e um crescente compromisso com a sustentabilidade, pode gerar um impacto duradouro. 

Elas não apenas produzem doces, mas contam uma história de persistência, excelência e valorização das raízes brasileiras.

O consumidor atual, cada vez mais consciente, tem a oportunidade de se conectar com a rica história do chocolate numa jornada que se estende desde o cultivo do cacau na floresta até a barra final. 

O primeiro chocolate do Brasil foi apenas o começo de uma jornada que continua a se desenvolver, prometendo cada vez mais qualidade e sabor em cada pedaço.