O Brasil já liderou o topo entre os países produtores de cacau. Também é o único país que possui todos os setores da cadeia, que emgloba as unidades produtoras, as moageiras e as chocolateiras.
Além de suprir o mercado interno, há uma crescente demanda do mercado internacional, tornando sua produção estratégica para expansão dos negócios.
Mas a indústria, por sua vez, enfrenta grandes desafios para garantir um cacau sustentável, ao mesmo tempo em que combate questões que impactam diretamente o meio ambiente e as comunidades produtoras de cacau.
Isso quer dizer, desmatamento, trabalho infantil, baixa produtividade e a pobreza dos agricultores.
Para isso, o setor tem buscado iniciativas focadas em garantir uma produção mais responsável e minizar os impactos negativos ao longo do ciclo de vida.
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Desafios da produção de cacau
A demanda mundial por chocolate continua crescente. Isso coloca cada vez mais pressão sobre os produtores e as florestas.
A cadeia de suprimentos do cacau, que envolve milhões de pequenos agricultores, especialmente na África Ocidental (onde se concentra a maior parte da produção global), excede esses problemas.
- Desmatamento: para aumentar a área de cultivo, florestas tropicais são frequentemente derrubadas, o que leva à perda de biodiversidade, erosão do solo e emissões de gases de efeito estufa. O cultivo do cacau sob o sol direto, em vez dos sistemas agroflorestais tradicionais (que usam árvores de sombra), também contribui para o desmatamento.
- Mudanças climáticas: o cacau é altamente vulnerável às alterações climáticas, com períodos de seca mais longos e chuvas irregulares afetando a produtividade das lavouras. Projeções indicam que grandes áreas de cultivo podem se tornar inadequadas para o cacau nas próximas décadas, ameaçando a subsistência de comunidades e a oferta global.
- Baixa produtividade e baixa renda dos agricultores: muitos pequenos produtores operam com baixa tecnologia e manejo agrícola inadequado, isso resultando em produtividade limitada e tornando as plantações mais suscetíveis a pragas e doenças. Isso, somado aos preços flutuantes do cacau no mercado internacional e à atuação de atravessadores, mantém os agricultores em um ciclo de pobreza, o que dificulta o investimento em práticas sustentáveis.
- Trabalho infantil e trabalho análogo à escravidão: um dos desafios sociais mais graves é a presença de trabalho infantil e, em alguns casos, análogo à escravidão nas fazendas de cacau. A pobreza dos agricultores, como citado acima, os força a empregar mão de obra barata, incluindo a de crianças, em condições precárias e sem acesso à educação.
- Falta de diversificação: em algumas regiões, a dependência do cacau como principal fonte de renda pode levar à monocultura, o que consequentemente esgota o solo, aumenta a vulnerabilidade a pragas e reduz a biodiversidade.
Iniciativas e soluções para um cacau sustentável
Apesar dos desafios, há um movimento crescente na indústria para promover a sustentabilidade e a ética na produção de cacau. Governos, empresas, ONGs e agricultores estão unindo esforços em diversas frentes:
1. Certificações de sustentabilidade
Sistemas de certificação são ferramentas importantes para garantir que o cacau seja produzido de forma mais responsável. Eles estabelecem padrões sociais, ambientais e econômicos que os produtores devem seguir:
- Rainforest Alliance: uma das certificações mais reconhecidas, foca na proteção da biodiversidade e dos meios de subsistência, incentivando práticas agrícolas sustentáveis e combatendo o desmatamento e o trabalho infantil.
- Fairtrade (comércio justo): garante um preço mínimo para os agricultores, além de um prêmio social que é investido em projetos comunitários (educação, saúde, infraestrutura). Promove condições de trabalho dignas e proíbe o trabalho infantil forçado.
- Certificações nacionais: governos e associações locais estão criando selos para atestar a produção do cacau sustentável, muitas vezes focando em sistemas agroflorestais específicos de cada bioma, como a Cacau Cabruca a Cacau Amazônia.
2. Programas de sustentabilidade de grandes empresas
Grandes empresas de chocolate têm investido em programas próprios de sustentabilidade, visando à rastreabilidade e à melhoria das condições nas cadeias de suprimentos:
- Nestlé Cocoa Plan: foca em boas práticas agrícolas, melhoria da qualidade de vida dos produtores e produção de cacau de qualidade. Atua diretamente com cacauicultores, promovendo rastreabilidade e práticas regenerativas.
- Cocoa Life Mondelēz International: aborda questões complexas como mudanças climáticas, desigualdade de gênero, pobreza e educação básica nas comunidades produtoras. O objetivo é tornar o cacau sustentável e uma atividade economicamente viável.
- World Cocoa Foundation (WCF): empresas como a Harald, são membros ativos da WCF, uma iniciativa global que visa promover práticas sustentáveis, garantindo o bem-estar dos agricultores e a preservação ambiental. A fundação também está a frente do Projeto Cacau 2030 que tem por objetivo transformar a cadeia produtiva do cacau até 2030.
3. Agricultura regenerativa e sistemas agroflorestais (SAFs)
A cacauicultura regenerativa surge como uma alternativa promissora. Em vez de degradar o solo, ela busca a regeneração dos ecossistemas, a saúde do solo e o bem-estar das comunidades.
As fazendas de cacau tradicionais, que cultivam cacau à sombra de outras árvores, promovem a biodiversidade, melhoram a qualidade do solo, protegem os cacaueiros de pragas e doenças e ajudam a combater o aquecimento global, sequestrando carbono da atmosfera.
Outro objetivo é incentivar os agricultores a diversificarem sua produção (com frutas, madeira, castanhas) ao lado do cacau aumenta a resiliência econômica, melhora a segurança alimentar e contribui para sistemas agroflorestais mais saudáveis.
Projetos também focam na restauração de áreas desmatadas com espécies nativas e cacau, transformando antigos passivos ambientais em áreas produtivas e ecologicamente ricas.
4. Melhoria da renda e empoderamento comunitário
Reduzir a figura do atravessador e garantir que os agricultores recebam uma parcela maior do valor de seu produto.
Oferecer treinamento em boas práticas agrícolas, gestão de negócios, finanças e segurança no trabalho, profissionalizando a produção e as operações comerciais.
Criar oportunidades de emprego mais inclusivas e diversificadas dentro das comunidades cacaueiras, promovendo a igualdade de gênero e o desenvolvimento da juventude.
O futuro do chocolate responsável
A jornada para uma produção de cacau 100% sustentável e ética é complexa e exige um esforço contínuo de toda a cadeia, desde os agricultore, até governos e as grandes corporações.
O consumidor, por sua vez deve buscar produtos certificados e de marcas transparentes. Uma alternativa é conhecer o processo do chocolate bean to bar, que abrange desde a selação dos grão até a ambalagem final.
A conscientização e a colaboração são fundamentais para transformar o futuro do chocolate, garantindo que ele continue sendo algo prazeroso sem deixar um rastro amargo.
